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A Importância da Economia Circular na Sociedade Pós Pandemia

A Importância da Economia Circular na Sociedade Pós Pandemia
Larissa Lemos
jun. 9 - 12 min de leitura
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As consequências da pandemia de Covid-19 ultrapassam as barreiras de ordem biomédica e epidemiologia global, ela repercute e impacta toda a sociedade, economia, política, cultura e história nunca visto na história recente das epidemias. De fato, diariamente convivemos com notícias as implicações gerada pela pandemia que matou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, derrubou a economia global, desempregou milhões de pessoas, meios de subsistência foram prejudicados, saúde primária na maioria dos países está em estado crítico e saúde mental e violência doméstica estão em níveis de crise. 

 

 

Tal crise também deixou em destaque as desigualdades sociais, as injustiças e a realidade brutal afrontada pelos “trabalhadores essenciais” que se atuam como linha de frete ​​para manter a economia à tona. De acordo com Banerjee et al. (2021 aput Reeves, 2020) tanto a proibição quanto a liberação de serviços essenciais durante o bloqueio afetaram majoritariamente os pobres, as pessoas de cor e outros grupos marginalizados, cujas taxas de mortalidade são desproporcionalmente altas porque o fardo de manter a economia em movimento durante a pandemia recai indevidamente sobre eles.

 

Em meio a este período de caos em que vivemos, o Covid-19 trouxe um “alívio” que não pode ser momentâneo ao meio ambiente. Em estudos de Banerjee et al. (2021 aput Tollefson, 2020) foi estimado que os primeiros 4 meses de 2020 viram as emissões de gases de efeito estufa caírem em mais de um bilhão de toneladas em comparação com o mesmo período de 2019. De acordo com o periódico científico Nature Climate Change (2020) as medidas de bloqueio para conter a propagação da corona vírus causaram uma queda de 7% nas emissões de CO2 ao longo de 2020, a maior queda já registrada. A escala da redução é o que é necessário para cumprir as metas do Acordo Climático de Paris que visa limitar o aquecimento global em 1,5 ° C a 2 ° C acima dos níveis pré-industriais, algo que foi considerado inatingível no final de 2019, apesar das declarações de uma "emergência climática" por muitos países (Banerjee et al., 2021).

Outro ponto positivo levantado com o estudo de Banerjee et al. (2021) sobre a pandemia foram as mudanças dramáticas nas políticas governamentais, estratégias corporativas e comportamento social. O autor exemplifica com o caso do governo do Reino Unido que estão gastando trilhões de dólares em saúde, previdência, sistemas de seguridade social e habitação para os sem-teto envolvendo mobilização e redistribuição de dinheiro em níveis nunca vistos. Assim como o exemplo dos grupos de apoio à comunidade cresceram rapidamente em todo o mundo, o comportamento pró-social está em alta e alguns importantes as empresas estão cada vez mais se concentrando na entrega de valor social. Até o foco da política aparece estar mudando lentamente em direção ao bem-estar coletivo em vez de interesses individuais.

O fato é que a pandemia nos força a adaptarmos nosso dia-a-dia de maneiras que dificilmente tínhamos cogitado, ela também nos provoca a repensar como nossa economia esta estruturada. O objetivo deste artigo é provocar a reflexão sobre a crucial recuperação da saúde do nosso planeta. Será que a estratégia econômica de crescimento que nos trouxe até aqui é a mesma estratégia que devemos seguir como sociedade pós pandêmica ou poderíamos acelerar a mudança que já começou em uma direção a economia circular?

A estratégia econômica que nos trouxe até aqui

Apesar de mais de três séculos tenham se passado, o modo de operação da economia industrial mudou pouco desde a primeiros dias de industrialização em relação ao modelo linear de consumo de recursos que segue o padrão de "disponibilização". Na verdade, a cadeia de valor com base na extração de materiais, aplicação de energia e trabalho técnico, fabricação de um produto que é assim vendido ao consumidor final - que logo o descarta quando não serve mais ao seu propósito (SARIATLI, 2017 e E MacArthur, 2013). Embora haja avanços relevantes na melhoria da eficiência de recursos, o atual modelo econômico baseado na produção e consumo exacerbados trouxe como consequências o aquecimento global e o esgotamento crescente dos recursos naturais, dentre outros graves problemas que provocam a deterioração das condições de vida no planeta.

Léna (2012) em seu estudo sobre o Enfrentamento dos Limites do Crescimento-Sustentabilidade, Decrescimento e prosperidade alerta que, enquanto os limites referentes à expansão física do sistema econômico e a degradação gerada não eram perceptíveis, por mais que houvesse crises, a crença de que o sistema forneceria o necessário para o crescente consumo continuava inabalada. Este autor ainda considera que esta não é apenas uma crise ecológica, já que não se trata somente das questões da degradação ambiental, mas que é também uma crise relacionada diretamente com a pobreza e o mal-estar de grande parcela da população.

Na mesma linha de raciocínio, de que consequências ecológicas trazidas pelo crescimento incessante da produção e do consumo, ajudou a fortalecer um sistema que colabora com o aumento do desequilíbrio social e se mostra incompatível quanto ao equilíbrio entre economia, ecologia e sociedade tendo o decrescimento da economia como solução, o artigo base deste estudo Banerjee et al. (2021), sobre as Perspectivas Teóricas sobre Organização em uma era pós crescimento de um grupo de pesquisadores de cinco diferente país (Reino Unido, Estados Unidos, Canada, Austrália e Alemanha) através da análise de 3 artigos e suas próprias reflexões defendem que talvez o COVID-19 possa fornecer o ímpeto para essa mudança regenerativa. De acordo com os autores, uma pesquisa recente no Reino Unido descobriu que mais de 8 em cada 10 pessoas queriam que o governo priorizasse a saúde e bem-estar em relação ao crescimento econômico durante a crise da corona vírus. Mais de 6 em cada 10 acham que o governo deve priorizar a melhoria dos resultados sociais e ambientais antes do PIB após a pandemia diminuiu, embora quase um terço priorize a economia nesse ponto Banerjee et al. (2021, Youel, 2020). Os autores concluem que para que isso aconteça, instituições socialmente essenciais como o estado de bem-estar, saúde, a educação e a proteção ambiental precisam ser reformadas para que sejam independentes das perturbações no crescimento do PIB. Visualizando realidades alternativas e escapando da tirania do crescimento e a acumulação requer a reinvenção de nossas relações econômicas, ecológicas e sociais.

A necessidade de repensar a estratégia daqui para frente

A busca pela reinvenção da nossa economia requer que as empresas inovem em sua entrega de valor para a sociedade, considerando as atuais demandas sociais e ambientais. Nessa perspectiva, os bens e serviços precisam ser desenvolvidos, fabricados e fornecidos considerando tais preceitos.

Estudos de SWAR et al (2011) pontua sobre a necessidade de que os bens  e serviços serem analisados em todas sua cadeia de valor conforme conferência organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Johanesburgo (Rio +10), tornando necessária uma gestão ambiental que considere o pensamento do ciclo de vida.

​Neste sentido, uma proposta emergente é de economia circular que organiza as atividades econômicas através de um vetor de retro-alimentação recursos-produção-regeneração de recursos, busca maximizar o uso sustentável dos recursos naturais, eliminando o desperdício. 

 

Um pouco sobre Economia Circular

Embora ainda seja uma construção teórica segundo E MacArthur (2013), o termo "economia circular" denota uma economia industrial que é restaurador por intenção e design. Em uma economia circular, os produtos são para facilitar a reutilização, desmontagem e recondicionamento, ou reciclagem, com o estudo de que é a reutilização de grandes quantidades de materiais recuperados de produtos em fim de vida, por revertendo a extração de recursos, ou seja, a base do crescimento econômico (MORSELETTO, 2020). Com a economia circular, recursos ilimitados como o trabalho torna-se protagonista dos processos econômicos, e os recursos proporcionados por a oferta natural desempenha um papel mais coadjuvante.

Mesmo que o cenário demográfico mundial atual contenha cerca de dois bilhões de pessoas, continua existindo em condições agrícolas básicas ou piores, três espera-se que bilhões se juntem às fileiras dos consumidores da classe média até 2030. Porque desta nova prosperidade, uma onda de demanda maior e em um período mais curto do que o mundo já experimentou. Mesmo as projeções mais conservadoras para global o crescimento econômico na próxima década fez com que a demanda por petróleo, carvão, minério de ferro e outros recursos naturais aumentarão em pelo menos um terço, com cerca de 90% disso aumento proveniente do crescimento em mercados emergentes como o Brasil (E MacArthur, 2013).

Conforme mostrado na figura acima - A Economia Circular - um sistema industrial que é restaurador por design, de acordo com estudos de E MacArthur (2013), a economia circular é baseada em alguns princípios. A “eliminação” do desperdício é a essência da economia circular. Por meio da otimização do design do produto e seu ciclo de desmontagem e reutilização. O segundo princípio é baseado na estrita diferenciação entre componentes consumíveis e duráveis ​​de um produto. Em terceiro lugar, está diminuindo a dependência de recursos e aumentando a resiliência do sistema por energia renovável por natureza. O último princípio é substituir o "compre e consumir "economia do modelo linear à circularidade, alugando ou compartilhando produtos duráveis ​​sempre que possível. Se forem vendidos, existem incentivos ou acordos firmados para garantir a devolução e, a partir daí, o reaproveitamento do produto ou seus componentes e materiais ao final do período de uso principal. Por meio de todos esses princípios, há a criação de quatro fontes claras de criação de valor da circularidade na economia:

E MacArthur (2013) aponta que essas quatro maneiras de aumentar o material produtividade não são apenas efeitos pontuais que afetarão a demanda por recursos para um curto período durante a fase inicial de introdução dessas configurações circulares. Seu poder duradouro consiste em alterar a taxa de execução de entrada de material necessária conforme assim adicionando vantagens acumulativas substanciais sobre um caso clássico de business-as-usual.

Nossas escolhas, nosso futuro

As decisões que nossos avós e pais tomaram impactam a maneira como vivemos hoje, e por não existir um segundo planeta, nossas escolhas de hoje moldaram nosso futuro. Não existe mais o “voltar” ao normal, vivenciar a pior crise do mundo nos forçou a aprender que somos parte do conjunto, que ao pensar do coletivo, naturalmente estamos pensando em nós mesmo; é mais do altruísmo, é logica.

Além dos inúmeros desafios de hoje, vivenciar uma pandemia sem precedentes é o momento propício para pensar no coletivo, e como consequência em nós mesmos, para construção de um amanhar melhor. Quando observamos a natureza, enxergamos resiliência e regeneração, nos como parte dela precisamos aproveitar o potencial disruptivo, gerado pela pausada forçada do mundo, e repensar nossos relacionamentos com a natureza, comunidades, indivíduos e com nos mesmos.

As lições aprendidas pela desaceleração produtiva, impensável a pouco meses atrás, devem ser aplicadas no retomar das nossas atividades e em como nos relacionamos com produtos e serviços. Não existe o “jogar fora”, precisamos extinguir a exploração gerada pela economia linear e redesenhar nossa economia para o que vem depois, e refletir suas propriedades de saúde e circularidade.

 

 


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