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Ensaios sobre a incerteza

Ensaios sobre a incerteza
Robson Del Fiol
abr. 10 - 6 min de leitura
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Ensaios sobre a incerteza

Você tem certeza de que a pessoa que você contratou consegue entregar o que você precisa?

Você tem certeza de que conhece seus clientes?

Seu produto entregará o que os clientes precisam e desejam: você tem certeza?

A propósito, o que significaria “incerteza”? A resposta vai depender de qual categoria de incerteza estamos falando. Estudando sobre o assunto descobri que a palavra incerteza aparece em várias áreas do conhecimento humano: física, filosofia, economia, estatística, psicologia e finanças. Uma palavra usada em tantos contextos é muito importante, a meu ver!

Segundo o Wikipédia, “incerteza” basicamente é uma palavra normalmente usada quando não é possível prever os resultados de uma ação ou o efeito de uma condição. Também pode se referir ao grau de imprecisão de medidas físicas ou ao desconhecido.

A incerteza é a única certeza!

Nas décadas que antecederam a microinformática, e também a internet, vários executivos de empresas de tecnologia tinham certeza de suas opiniões e conceitos. Trarei aqui algumas destas frases para deixar bem-marcado meu ponto.

Em 1943, o então presidente da Big Blue disse: “Eu acredito que há mercado para talvez cinco computadores” (Thomas Watson, presidente da IBM). Pouco mais de 34 anos depois, outra pessoa importante também se equivocou em suas certezas; Ken Olson disse: “Não há nenhuma razão para alguém querer um computador em casa” (Ken Olson, presidente e fundador da Digital Equipment Corp. em 1977).

Mais recentemente, um grande executivo emitiu sua opinião sobre o iPhone. Trata-se de Steve Ballmer, que disse: “US$ 500? Todo subsidiado? Com um plano? Eu digo que este é o telefone mais caro do mundo. E ele nem é atraente para o trabalho porque ele não tem um teclado, o que faz dele uma máquina de e-mail não muito boa” (Steve Ballmer, presidente executivo da Microsoft no lançamento do iPhone, em 2007).

Ainda sobre a Apple, outro grande executivo disse: “A Apple já está morta” (Nathan Myhrvold, então diretor de tecnologia da Microsoft, em 1997). Atualmente, a Apple é uma empresa que vale mais do que o PIB do Brasil. O jornal Folha de São Paulo publicou um artigo sobre o tema: a empresa simplesmente vale US$ 3 trilhões (link do artigo para quem duvidar do que escrevi aqui). O que será que o Nathan está falando hoje? Será que ele ainda tem tanta certeza de que a Apple está morta?

O princípio da incerteza

Poderia listar muitos outros exemplos de certezas que acabaram caindo com o tempo, porém, prefiro parafrasear Claudia Penteado, que escreveu um artigo muito interessante no ano passado intitulado “O princípio da incerteza” no qual ela simplifica o entendimento da teoria do físico alemão Werber Heisenberg. Ela diz: “somos todos feitos e rodeados de partículas quânticas realizando movimentos imprevisíveis, ainda que se calcule probabilidades”.

Com a experiência que tenho tido como executivo, empreendedor, investidor-anjo, conselheiro, coach, mentor, pai, marido, filho e vários outros papéis, arrisco-me a dizer que este comportamento de ter certeza de tudo é um dos grandes vilões da inovação e do crescimento pessoal das pessoas, mas não posso jogar pedras nos outros sem admitir que a minha própria janela também é de vidro. Ao olhar meus próprios comportamentos, percebo que também busco ter certeza das coisas, e, em alguns contextos, isso não é ruim, mas no mundo que vivemos hoje, o chamado BANI – Brittle/Anxious/Nonlinear/Incomprehensible – em português seria FANI – Frágil/Ansioso/Não-linear/Incompreensível –, torna-se muito complicado fazer grandes afirmações. Mesmo assim, faço tais constatações diariamente e em diversas situações. Esqueci de falar que o mundo VUCA/VICA já era: veja este artigo sobre o assunto (Do mundo VUCA ao mundo BANI: entenda a relação e como sua empresa pode se preparar).

O efeito de Dunning-Kruger

Por que as pessoas afirmam coisas sem ter certeza? Há muitas razões para isso, mas penso que o medo está relacionado com a maioria delas, principalmente por se tratar de sentimento muito primitivo de sobrevivência. Aprendi isso com a Camilla Pádua, minha amiga especialista em pessoas e cultura, que me disse uma vez: “Róbi, nós somos um produto de covardes”. O contexto da nossa conversa estava exatamente relacionado ao tema inovação e à dificuldade das pessoas dizerem que não sabem o que fazer para inovar e salvar suas empresas e seus empregos. Ela continua: “então, Róbi, o cérebro entra em modo de sobrevivência e faz o mais fácil, volta-se para o seguro e conhecido”. Em minha opinião, é aí que vem a certeza, como forma de dar conforto à própria pessoa.

Pesquisei e encontrei um nome para isso, chama-se o efeito de Dunning-Kruger (Leia sobre isso aqui), que ocorre em diversas destas situações, especialmente quando nosso conhecimento é muito raso e não sabemos de todas as complexidades envolvidas no tema. Se acabamos sofrendo o efeito, então, qual seria a solução? Não tenho certeza do que escrevo aqui, mas, talvez, estudar profundamente sobre o assunto antes de decidirmos ou emitirmos uma opinião seja uma boa ideia. E se nos depararmos com uma situação sobre a qual não sabemos o suficiente, talvez, seja melhor dizer que não temos certeza, não é mesmo? 

Photo by Lubo Minar on Unsplash

Texto publicado originalmente no linkedin: Ensaios sobre a incerteza


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